“Se eu não nomeio uma realidade, porque vou pensar em saídas emancipatórias para uma situação que sequer existe?” Esse foi um dos tantos questionamentos trazidos pela professora, pesquisadora e filósofa Djamila Ribeiro durante o Curso de Vitaliciamento dos novos juízes do Rio Grande do Sul. A professora ministrou aula para os magistrados na manhã desta sexta-feira (5/8) em um encontro presencial no Foro Central de Porto Alegre. O encontro marcou mais uma jornada humanística da formação organizada pela Escola da AJURIS, em parceria com a Corregedoria-Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do RS.
Baseada em autores clássicos que abordam questões de raça e gênero, Djamila, que é referência nacional na discussão científica e literária sobre racismo, trouxe para o centro do debate as hipocrisias encontradas no dia a dia de um país que tem na sua história a escravidão da população negra. “Houve um empobrecimento da população negra, que primeiro foi escravizada e depois, com a abolição, foi escanteada para os lugares mais afastados das cidades”, afirmou.
A professora também falou sobre a situação de invisibilidade que homens e mulheres negras vivem em uma sociedade que privilegia pessoas brancas. “Não chamar pelo nome é o primeiro passo para a desumanização. A tia do café e da limpeza tem nome, mas a gente fixa ela no lugar do outro porque não está no mesmo lugar que eu”, criticou Djamila.
Para a professora da Escola da AJURIS, Patrícia Laydner, a presença de Djamila Ribeiro mostra a preocupação da instituição em transformar a formação inicial em um local de debates sobre humanidades. “Não estamos aqui apenas para discutir leis, audiências e pontos técnicos da magistratura, mas também questões de raça, gênero e classe que trazem um viés humanístico para atuar na Justiça”, destacou. A aula especial também foi acompanhada pelo presidente da AJURIS, Cláudio Martinewski, pela vice-diretora da Escola, Clarissa Costa de Lima, e pela diretora da Vice-Presidência Cultural Madgéli Frantz Machado.